O colapso estatal
Talvez a inteligência artificial se transforme na grande solução. O estado do mundo nos dias que correm é de entristecer qualquer cidadão. Estamos mergulhados num caos de múltiplas consequências. A falência do Estado, como instituição organizadora da vida dos povos, é múltipla, profunda e global. Mesmo que se considere a crise climática como evento assustador e crescente, a falência do Estado como fonte de controle da ordem e da justiça, representa hoje o maior desafio da humanidade.
Os regimes, sejam abertos e democráticos, sejam autoritários e violentos, continuam a se desintegrar diante de nossos olhos e perplexidade. Não só o Equador é o modelo da semana, como a Argentina e a Venezuela igualmente se revelam os casos mais graves desse pedaço do planeta. Muitos outros casos se multiplicam ao redor do planeta. O crime organizado, de fato, mostra poder e desvario. Mais grave ainda, revela o crescimento do barbarismo que o Estado organizado não demonstra capacidade para conter. Assistimos, perplexos e vulneráveis, os avanços da violência em larga escala e a inoperância explícitas dos governos da União, dos Estados e Municípios. Eles só gastam com a mídia, no que estão sendo imitados pelos organismos suplementares, como judiciário, legislativos, prefeituras, etc. Seria isso um instinto de sobrevivência? O medo do amanhã?
Neste quadro, o Brasil tem muito a refletir. Não são apenas as gangues do Rio de Janeiro, da Bahia, de São Paulo, ou as quadrilhas no Amazonas, no Nordeste, mas as organizações criminosas operam também no Sul do país, habitando apartamentos de luxo na orla marítima e desfilando à luz do dia em carros de um milhão de reais. O que diferencia o Sul do restante do país, é que por aqui a imprensa tradicional não existe mais e o que resta de mídia está no controle do Estado, através de rios de dinheiro público investidos na proteção à imagem. Mas o banditismo é tão perigoso quanto no resto do país. Não somos o que tão acintosamente é cantado e decantado como imagem oficial. Nada de Sul maravilha, potência logística ou pleno emprego. O Sul é um mapa rodoviário estilhaçado, portos que operam à míngua, ensino em frangalhos, indústrias quase sucateadas, mão de obra de sofrível qualificação. Entre nós, quase inexiste empreendedorismo e risco. Só temos um quadro de mediocridade, omissão e subalternidade.
O que temos no Brasil é, cada vez mais, um Estado falido. Voraz na tributação – a reforma tributária em curso será um golpe monstruoso no sistema produtivo – e obcecado em gastar. Vem aí o concurso público unificado para ampliar os gastos com cerca de sete mil novas nomeações, algumas que custarão já no primeiro mês, individualmente, 23 mil reais aos contribuintes. As nomeações dos aprovados começam já em agosto, anuncia o governo Lula-3. Enquanto isso, o desafio da segurança é colocado debaixo do tapete. Anuncia-se um Museu da Democracia, com verba de R$ 40 milhões. Custará mais um bilhão e deve garantir salários e honorários para milhares de ‘companheiros’. Talvez o museu jamais seja concluído.
Em qualquer parte do planeta o Estado mostra sua falência múltipla. Não apenas está no limite da tributação, como é incapaz de algum controle sobre a burocracia. A ineficiência mostra suas garras. Putin, por exemplo, invadiu a Ucrânia convencido de que ganharia a guerra em duas semanas. Soube, depois, que os generais mentiam grotescamente. Os tanques pararam no meio do caminho por falta de combustível. A guerra dura dois anos, os custos são calamitosos, tanto para a Rússia quanto para Ocidente. Na guerra do Hamas com Israel, são completamente desconhecidos os rumos possíveis a curto prazo. O conflito regional parece ser o grande objetivo, com ruidosa participação americana num avanço sem precedentes à ameaça nuclear do Irã.
O Estado vem se mostrando o grande Leviatã dos tempos modernos. As estruturas burocráticas dominam o Estado em benefício próprio, e não apenas no Brasil. Ao cidadão, resta recorrer aos caminhos digitais, onde inexiste responsável e é inútil desferir palavrões. O custo do Estado não é mais suportável, daí que, sim, a inteligência artificial talvez promova a revolução que nos salve a todos do colapso da burocracia e do esgotamento real das instituições. De todas as instituições, do sistema de Justiça ao de ensino, da infraestrutura ao sistema de segurança. No Brasil, os fatos demonstram todos os dias que já avançamos para além do suportável. Há um cheiro de Equador por todo o mundo. Até mesmo por aqui, nas potências do Sul maravilha. (aternes@terra.com.br)