Resgates
Artigo, 6-2-16
— Apolinário Ternes
Adiante, quando analisarem o que foram os tempos em que vivemos hoje, os estudiosos terão dificuldades em compreender como tão poucos conseguiram tanto em tão pouco tempo. Refiro-me à deformação da sociedade e ao novo imperativo do politicamente correto. Estamos sendo massacrados pelo destronamento da razão, escreve o pensador Roger Scruton em ‘Como ser um conservador’, livro que deveria ser lido pelos que têm sentimentos por valores coletivos como paz, propriedade, liberdade, lei, civilidade e vida familiar.
Os valores que fundamentam cinco mil anos de civilização estão sendo impiedosamente pulverizados por um novo sistema que enaltece o falso, elogia o grotesco e protege minorias. O processo começou há duas ou três décadas e se torna sempre mais acelerado. Primeiro foi nos meios acadêmicos, onde vicejam sindicatos, desinformados e patrulhas ideológicas, depois ganhou a mídia, onde prolifera o politicamente correto e a superficialidade e, agora, domina o mundo através das redes sociais.
Mesmo assim, apesar da cultura da superfluidade, há milhões vivendo sob o sentimento do desamparo, crentes de que o mundo de seus pais tinha mais consistência, racionalidade e coerência. O mundo precisa redescobrir e resgatar valores perenes que criaram e difundiram civilizações e dão sentido ao gigantesco esforço humano na construção do passado. O mundo contemporâneo necessita do resgate de valores como família, espiritualidade, respeito ao outro e cultivo de virtudes nobres como a conversa, o silêncio, e ainda reduzir o volume de certezas absolutas que estancam o diálogo e a convivência. Precisamos da velha e sábia tolerância, começar pelo repúdio às imposições de minorias ditas esclarecidas que determinam o que é certo e errado sob valores equivocados. Conservar é, acima de tudo, preservar e defender o duradouro, o permanente, o transcendente. Precisamos de nova Renascença, com uma estética que reabilite o humano, o contido e o reverente, fundamentos da civilidade e da tranqüilidade.