A voragem do populismo
Um pouco de reflexão e tomamos consciência de que o grande mal do nosso século é do mesmo padrão do anterior: o domínio do populismo e a invencível força do consumo, não do comunismo.
O comunismo acabou, não existe em nenhum lugar do mundo. Talvez, apenas na cabeça da extrema direita, que se serve da ignorância para esculpir seu catastrofismo de ocasião, como vimos no Brasil nas últimas semanas.
O populismo é uma praga política que se perde na memória do tempo. O poderoso império romano acabou ruindo em razão do populismo de seus últimos imperadores. E nos últimos dois milênios o populismo sempre esteve presente, avançando sobre o Estado e colocando na miséria milhões de pessoas em praticamente todos os regimes políticos. O populismo vive da miséria das massas e se reinventa das mais curiosas formas. Da direita à esquerda, como vemos no Brasil, o populismo nos leva ao círculo vicioso do atraso, da repressão e da exclusão.
Aos 45 dias de seu terceiro mandato, Lula da Silva renasce cada vez mais beligerante, ressentido e convencido de que pode resolver tudo: da guerra da Ucrânia à taxa Selic. Com o dramático episódio de 8 de janeiro, o ímpeto revisionista parece engolfar o novo governo numa alucinada e incontrolável ânsia de punir a direita, extorquir os ricos e manter acesa a chama do mais puro e deslavado populismo. Ou seja, teremos demagogia, retórica e avanços no aprofundamento da crise econômica, com furor de gastos e terror aos ricos. Competência, o novo governo só mostrou ao se ajoelhar diante de Arthur Lira.
O Brasil, que tão desesperadamente tentou se despedir do terrorismo da direita, está ameaçado pela continuidade do mesmo populismo à esquerda, ainda mais extremado. Nos tempos modernos, a política afunda no descrédito e na desconfiança. A cobiça pela riqueza fácil e pelo poder sem limites, avança em todo o planeta. De fato, a urgência não é apenas climática, mas principalmente a urgência na recuperação de algum senso de razão. Em tempos de polarização, estamos mais próximos de rupturas do que de reformas.
Os governos gastam enlouquecidamente não para dar melhores condições de vida aos contribuintes, apenas para exercitar o populismo e preservar o poder. Essa é a cilada da democracia, e pode, de fato, acabar por nos conduzir a regimes autoritários e despóticos, como de alguma forma proliferam nos cinco continentes desde o início do século passado. As democracias morrem pelo populismo e pela burocracia, outro mal dos nossos tempos. A ineficiência, a corrupção, o nepotismo e o descaso pelo avanço da pobreza, se escondem nas armadilhas da burocracia.
Não que tivéssemos a ilusão de que um novo governo do PT devesse ser diferente deste que se apresenta. O que assusta, contudo, é a velocidade, a inflexibilidade e o desejo de um ajuste de contas às avessas. É a ânsia em encurralar – ou colocar na cadeia – os desafetos do governo anterior. Ainda mais assustadora é a ameaça de repetirmos os grotescos episódios do passado: inflação, desemprego, pobreza e a inescapável exclusão do Brasil do mapa das nações possíveis. Estamos a um passo de desastre ainda dramático: a ditadura da ignorância travestida de iluminismo petista.