O Estado falido
O Brasil está arrecadando a bagatela de quase 3 trilhões de reais por ano, sob as rubricas mais exóticas em todos os cofres coletores da máquina estatal. Não é pouco dinheiro, mesmo assim, a miséria inunda a retórica oficial e, a cada tragédia de chuvas e temporais, lá vem o governo dizer que o dinheiro está escasso e que a culpa é do governante anterior, seja o prefeito, o governador ou o presidente da República.
O Leviatã, aquele de Hobbes, do século 18, continua mais voraz do que nunca. De fato, o estado brasileiro é a tradução de nossa inviabilidade como nação. Mesmo falido e sem dinheiro para atender às necessidades básicas da população, há bilhões de reais para a gastança oficial. E não só com obras superfaturadas, nem para gastar com ‘emendas secretas’ ou fundos partidários dignos das arábias, mas para anúncios no rádio, televisão e internet, de forma permanente e indecorosa. O que acontece em Santa Catarina, e se repete nos demais estados, é um atentado à dignidade cívica de qualquer cidadão.
Não é só o executivo, legislativo e o judiciário, mas também o tribunal de contas, a assembleia legislativa, as câmaras municipais, prefeituras, empresas estatais, todos gastam fábulas neste início de 2023, assim como em quase todo o quadriênio passado. O cofre público patrocina gastos permanentes e todos recolhem as sobras: produtores, diretores, atores, agências e veículos, principalmente estes últimos que têm no dinheiro do povo uma de suas fontes mais fáceis e ilimitadas. De fato, um escárnio ao povo catarinense que as ‘instituições’ promovem na cara de todos e, literalmente, ninguém, absolutamente ninguém, é capaz de emitir uma única denúncia, um único protesto. Até porque não têm onde exibir a sua ira. A gastança pornográfica do dinheiro público continua, em atendimento prioritário aos interesses privados. O nome disso, dizem os autorizadores de gastos, é democracia. O povo tem direito de saber o que as instituições não fazem.
As chuvas de verão em todo o país revelam a que ponto de deterioração e de quase nenhuma manutenção padecem nossas estradas, pontes, áreas urbanas e órgãos de ‘defesa civil’ nos estados e municípios. Tudo à míngua, apesar de dotações orçamentárias que, saem dos cofres públicos, e jamais chegam aos locais a que se destinam.
Mesmo uma rodovia federal, ligação vital para o Sul do país, pode ficar mais de uma semana soterrada pela ineficiência do Estado, ou dos concessionários que cobram pedágios. Primeiro vem a tragédia, depois sobrevém a infinita capacidade de os governos nada fazerem. No máximo, sobrevoos de helicópteros, como sempre. Para o populismo de sempre e o esquecimento seguinte até que novas destruições punam o povo impiedosa e persistentemente. O nome disso é Leviatã, o monstro que esfola o contribuinte e ainda faz publicidade mentirosa e sistemática, sem que aconteça reação alguma. Um dia, porém, mostra a história, o povo se revolta e põe na guilhotina os mentirosos, eleitos ou não pelo povo. No Brasil, falido há 500 anos, nunca as ‘instituições’ estiveram tão em frangalhos quanto agora. Falimos de novo, mostram os fatos. Um dia teremos que pôr ordem na casa, antes que tudo desabe, como já aconteceu tantas vezes. (aternes@terra.com.br – 21/02/23)