Inteligência artificial
A Inteligência artificial chegou como pandemia. É disso que se fala em todas as plataformas antigas de mídia, em jornais impressos e eletrônicos, no Google, nos celulares e nos podcasts de sempre. A esses meios todos, some-se os textos produzidos por aplicativos de ChatGPT, que escrevem tudo o que se pedir. De romances a peças jurídicas, de poemas a teorias sobre o nascimento do universo, tema, aliás, que mobiliza cabeças pensantes desde o tempo de Sócrates e Platão.
Agora, nos Estados Unidos, acaba de ser criado um MBA inteiro para a compreensão e avaliação dos efeitos da inteligência artificial na produção da pós-modernidade, na pós-mentira e na confusão plena que nos confunde a todos e todas. E todes podem compreender porque a inteligência artificial deve colonizar o século 21, nesta antevéspera de expedições a Marte e a qualquer canto da galáxia que habitamos.
A pandemia da informação certamente produzirá um novo tipo de homo sapiens. Talvez melhor adaptado e adequado aos tempos radicais em que estamos mergulhando com tanta voracidade. Como se pode aparelhar e controlar melhor as massas? Simples, substituindo a antiga capacidade da mente em produzir avaliações e reflexões por um sistema robótico que responda a todas as questões. É disso que estamos tratando, de um mecanismo que substituirá o esforço mental das pessoas sempre que, eventualmente, se perguntarem alguma coisa. Já não é assim com o Google? O processo educacional não se amplia através de mecanismos eletrônicos, massivos, oniscientes e onipresentes? Aquilo que começou com respostas múltiplas nos vestibulares de antigamente, agora se expande para MBAs inteiramente montados e geridos por aplicativos de inteligência artificial.
Assim será o ensino, em qualquer de suas modalidades e em qualquer de seus diferentes graus. Os homens serão dirigidos e digeridos por essas novas máquinas de pensar, induzir, encurralar e domesticar. Teremos sim, mentes adestradas e raciocínios controlados. E como ficará, então, o comportamento humano? O que será da política? E das religiões? E da cultura, em todas as suas manifestações?
Como vemos, estamos apenas na véspera de mudanças realmente drásticas. Elas acontecerão nas duas próximas décadas. Assim como a computação, a inteligência artificial é apenas mais um degrau na evolução inexorável da tecnologia e da ciência. Não se deve, contudo, pensar que estamos a caminho da distopia final, ou do alvorecer do mundo pós-humano de amanhã. Não, devemos acreditar que assim como foi possível emergir das habitações rústicas do paleolítico superior, podemos avançar para o admirável mundo novo de daqui a pouco, mantendo-nos ainda humanos e sensíveis.
Um grego que viveu por volta do ano 500 antes de Cristo, na Ásia Menor, grande celeiro de pensadores daquela época, disse que ‘ há em tudo parte do todo’. Anaxágoras se instalou em Atenas por volta do ano 480 – o da batalha de Salamina – e foi um dos pilares do nascimento da filosofia. Nascia a especulação em torno do que somos, de que é criado o mundo, e se há um autor para tudo isso. Não chegamos a nenhum consenso sobre quase nada do tudo que discutimos em 2.500 anos, nem mesmo se, de fato, o ‘ o homem é a medida de todas as coisas’, como o próprio Anaxágoras teria dito então. De qualquer forma, a inteligência artificial está chegando para esclarecer alguma coisa de tudo que não entendemos, ou para complicar ainda mais nossa ilusão de conhecimento e de compreensão do todo. (aternes@terra.com.br–apolinarioternes.com.br).