Jornalismo
Artigo, 10-01-15b
—-Apolinário Ternes
Muito se disse a propósito do grande acontecimento de Paris. A chacina foi dissecada por antropólogos, sociólogos, jornalistas, historiadores e, exaustivamente, pelo povo em geral nas mídias eletrônicas. Todos, na sociedade democrática e globalizada, têm direito à fala, à opinião, à repulsa e às lamentações. Poucos, contudo, chegam à essência do que o acontecimento representa.
Acima de tudo, estamos a caminho de tempos radicais. Voltaremos, em poucos anos, às cruzadas católicas de mil anos passados. Para libertar Jerusalém. Em nome, de um lado, dos valores da sociedade aberta, do Ocidente e da civilização cristã. De outro, em nome de Alá, milhões de desorientados estão a caminho de atentados como o de Paris. Enquanto um lado caça, tortura e mata, o outro aplica as técnicas do terrorismo, da surpresa, da violência inaudita como as cenas de decapitação no território do Estado Islâmico.
Sim, o radicalismo avança, muito depois da derrubada das torres gêmeas de Nova Iorque. Existem milhões de fundamentalistas espalhados por aí. Os valores cultivados são frontalmente contrários aos que inspiram o Ocidente. Mulheres não devem estudar, não devem dirigir carros, não devem mostrar o rosto. Alá, o deus de Maomé, é rigoroso, vingativo e se expande desde 622 com rapidez e violência. Quase sempre a fio de faca ou de metralhadoras, como, aliás, aconteceu com o catolicismo. Religiões, por séculos, continuarão motivando as mais lamentáveis barbáries, como agora. O argumento dos muçulmanos, em parte, é verdadeiro. Eles querem se livrar da opressão do capitalismo, das desigualdades sociais, das falsificações da democracia, como temos assistido, com perplexidade, no Brasil de nossos dias. Sim, estamos mesmo numa guerra de civilizações, como preconizado por diferentes historiadores, dos quais ‘O choque de civilizações’, de Samuel Huntington foi um dos primeiros a indicar, ainda em 1997. Bem antes, portanto, dos atentados de 2001 em Nova Iorque.
Nesta perspectiva de totalitarismo, fundamentalismo e, no Brasil, de patrulhamento ideológico, o exercício do jornalismo continua um dos ofícios mais perigosos. Explica-se, ainda, o número de jornalistas assassinados, perseguidos, calados. Explica-se o interesse de muitos no controle social da mídia. Infelizmente, o que teremos à frente, será a continuidade da escalada de insensatez e absurdo que já vivemos. No planeta e no Brasil. Aos que lembram de George Orwell (1984) e George Lucas (Guerra das Estrelas), o mundo do futuro nunca chegou tão cedo. (Je suis Charlie).