Retrato do Brasil
Qualquer cidadão que pare um segundo para refletir sobre o Brasil de nossos dias, neste começo de 2023, tomará um susto, e dos grandes. Caminhando para os primeiros cem dias, o governo Lula-3 se revela brutal: o ministro Juscelino, guindado do baixo clero por obra e graça de Arthur Lira e David Alcolumbre ao ministério das Comunicações, depois de cometer longo rosário de malfeitos, continua ministro. Trata-se da mais completa e miserável demonstração de que a república continua de banana. A república não muda jamais, piora a cada ano. Esse episódio de Juscelino Filho é o epitáfio do governo Lula-3.
Juízes e ministros das cortes mais supremas se mantém nas manchetes, depois que, mais uma vez, se revelou que litigantes com causas de R$ 158 bilhões nos tribunais estão pagando mordomias do mais alto calibre. Nenhum juiz recusou nada e, também, não consideram ilegalidade ter contas pagas por uma das partes dos processos que julgam. Simples assim.
O ex-presidente Jair Bolsonaro fez de tudo, até mesmo transformar um ministro e almirante da Marinha em ‘guri de recado’ para aplicar ‘carteirada’ na Receita Federal e liberar R$ 16,5 milhões em joias recebidas por Michele de potentado das arábias. Uma sujeira das mais nojentas que revela a profundidade dessa multidão de porão que governam o Brasil. E impressiona quanto podem ser submissos e desavergonhados os que alcançam o poder e rasgam a honra no altar do servilismo e do oportunismo. Mesmo sendo generais, almirantes, ministros de altas cortes e doutores universitários.
Mais de 7 milhões de brasileiros pediram demissão de seus empregos nos últimos meses. Não é pouco para um país miserável como o nosso. São pessoas jovens, ao redor dos 30 anos de idade, insatisfeitas com o que fazem e o que ganham nestas empresas de capitalismo podre em que vivemos. Saem dos empregos porque são donas de currículos poderosos, de formação universitária completa e entendem que é melhor empregar o tempo em negócio próprio do que se sujeitar a empresas de códigos morais improváveis.
Como acontece em boa parte do planeta, no Brasil também se cultiva – e prospera – a cultura woke. O termo designa o politicamente correto que inunda universidades, colégios, veículos de comunicação, redes sociais, igrejas, púlpitos, casas legislativas e até mesmo conversas familiares de todos os naipes sociais e econômicos. Woke é sempre um analfabeto que tem ‘honoris causa’. É tudo aquilo que fica bonito na cultura em geral. Não precisa ter relação com a verdade, ou com a história. É o sujeito quase oco que fica dizendo o que não sabe, mas pensa que é bonito. Não há compromisso com fatos (só com versões) e, pronto, sai aplicando sentenças e verdades de acordo com o humor do momento. É um mundo triste. Vazio de qualquer sentido. Cidadãos pernósticos, radicais, convencidos que estão certos e de que é preciso reescrever a história, como fazem os partidos de esquerda, inclusive no Brasil, onde impeachment virou golpe de estado. É isso e pronto, está dito e acabado, favor engolir. Engolir sem mastigar não funciona, não há digestão. Fica empacado, dá mal-estar e produz ‘cancelamentos’.
É disso que estamos tratando no Brasil desse começo de março. Joias não explicáveis. Juízes embaraçados. Mitos de barro. Instituições que se liquefazem. Cultura de embuste. Governo que não fica de pé. Ministros que se ajoelham. Povo que não toma jeito. Sempre refém de qualquer aventureiro, da direita à esquerda. A manutenção do ministro Juscelino pode produzir efeitos mais desastrosos do que aconteceu em Brasília dia 8 de janeiro. Trata-se do aprisionamento do governo no que há de pior do pior. Lula abdicou do poder? Lira sabe a resposta, tanto quanto governa o Brasil desde a renúncia de Bolsonaro à presidência, bem antes dele fugir para Orlando em avião da FAB e se esconder lá com medo de joias, minutas de golpe e, talvez, de Michele, o ‘novo’ fenômeno político para consumo interno. (aternes@terra.com.br – www.apolinarioternes.com.br).