Sem reação
Artigo para quarta, 5-02-14
— Apolinário Ternes
Há 18 anos Joinville tem o mesmo número de policiais civis. A informação mostra as fragilidades do sistema de segurança pública na maior cidade catarinense. Cortes de energia elétrica são freqüentes, sempre com desculpas esfarrapadas das ‘autoridades competentes’. Falta água, também. O sistema continua aos pedaços, com rompimentos, vazamentos, falha de material ou insuficiência explícita de manutenção. O prédio da ex-prefeitura, na esquina da Max Colin e João Colin, continua aguardando por uma ocupação desde 1996, ano em que foi inaugurado o prédio atual. São 18 anos de indecisão do poder público. É um atestado sólido de como Joinville tem caminhado para trás nos últimos anos.
Obras de peso do governo federal e estadual em Joinville remontam ao ano de 1984: o prédio do Banco do Brasil e o Hospital Regional. Em 30 anos, reformas contínuas no ‘Regional’ já devem ter custado dez vezes o custo inicial da obra. Em trinta anos, pouco mudou o sistema de segurança. A penitenciária está sob ameaça de ser interditada, adverte o juiz João Marcos Buch, solitário Dom Quixote em defesa de um mínimo de civilidade nos presídios. É fácil constatar que Joinville tem sido tratada com miserável desconsideração ao longo desses anos. Mesmo sendo maior colégio eleitoral e a economia mais desenvolvida, andamos para trás.
Claro, representações políticas daqui e do Estado, ao longo dessas três décadas, contribuíram para conferir a Santa Catarina o status de ‘Maranhão do Sul’, com direito ao ciclo de barbárie nas penitenciárias. Começou aqui e pipocou lá. Lá como aqui, nada foi feito a não ser despachar os mais perigosos para presídios distantes. Não dá para contemporizar, o desleixo com o Estado se reflete nas obras federais que nunca saem. De um simples equipamento para aeroporto, salas de aula da UFSC ou a duplicação de importantes rodovias. Com a dissolução de qualquer oposição, o povo catarinense pena um dos mais difíceis momentos de sua história. Tácito, o grande escritor de Roma, diria, agora, o mesmo que disse do senado do império em 55 depois de Cristo: “Homens feitos para a servidão’. Flexíveis, servem ao poder. Qualquer um, desde que bajulem seus deméritos e atendam a seus interesses. O povo vem depois, pois o ‘Brasil é assim mesmo’. O brasileiro gosta de apanhar, diria Nélson Rodrigues. No passado, Joinville reagia. Foi o que fez a diferença. Agora, não reagimos. Até quando?