Sinal dos tempos
Quando visitamos sites de cultura e política, como o de Orlando Tambosi, (otambosi.blogspot.com) que acompanho há algum tempo, defrontamo-nos com sucessivos artigos de renomados estudiosos de várias partes do planeta, analisando questões culturais do nosso tempo.
No último domingo, como primeiro artigo do dia, Tambosi transcreve um belo e longo texto do professor José Carlos Fernandes, comentando o livro de Allan Bloom – A destruição do espírito americano – publicado inicialmente no ano de 1987 e republicado em Portugal em 2023.
Trata-se de longa exposição do drama vivido em pleno século 21, mas começado por volta de 1950, da desconstrução de um dos principais pilares sobre os quais construiu-se a sociedade moderna, a universidade. De fato, as críticas ao que ocorre nas chamadas instituições de ensino superior é alarmante e, de certo modo, configuram a decadência dos nossos tempos. Tempos em que, depois de 500 anos da invenção da imprensa e da condução do livro ao pináculo de sua história, tendo como suporte primeiro a universidade, criada em torno do século 10 na Europa, vemos a sua absoluta corrosão a partir de seus próprios fundamentos. Quero dizer que a instituição universidade, em boa parte do planeta e essencialmente nos Estados Unidos e Europa, está sendo destruída pelos seus principais protagonistas, os professores. É o que demonstra de forma inquestionável o professor José Carlos Fernandes em seu bem fundamentado artigo.
A universidade, com raras exceções, e quase nenhuma no Brasil, assim como em Portugal, está sendo diluída na mediocridade de seus acadêmicos, primorosos discípulos do ‘politicamente correto´. No Brasil, por exemplo, a universidade se transformou no asilo de mentes decaídas, onde só é permitido o ingresso aos confessos seguidores da cartilha do PT. Nas federais, por ideologia mesmo, e nas universidades particulares em razão do ‘mercado´ e da guerra das mensalidades. É condição imperativa para o acesso à academia, confessar o absoluto pecado do esquerdismo e do ‘politicamente correto’. Resultado disso, a mediocridade em termos absolutos, a inutilidade de diplomas e a garantia antecipada de miopia, ineficiência e produtividade intelectual zero. É disso que as universidades em geral cuidam: produzir mentes atrofiadas aos milhares, além de ‘especialistas’ em nada, com empregabilidade zero. Enfim, as sagradas instituições criadas a partir do ano 1.100 na Europa estão acabando no lixo global dos tempos presentes. Sociedades do lixo, como somos no amplo sentido da palavra.
A falência da universidade é um dos sinais mais grotescos do nosso tempo, em que as rupturas são radicais e decretam a vinda de tempos ainda mais amargos e nublados. A inteligência artificial não representará um avanço em relação ao ensino tradicional, apenas a universalização da imbecilidade, pois, como começamos a saber, a IA não é mesmo o que se apregoa, talvez muito pelo contrário. Contudo, a automatização, a robotização e o tal ‘admirável mundo novo’ continuam sua inexorável caminhada.
O século 21 pode se transformar no século em que a humanidade chegará ao ápice da idiotice, da alienação e da transformação do humano no transumano ou no sub-humano, onde conhecimento, cultura e sensibilidade sejam privilégios de alguns poucos que, eventualmente, conseguirem embarcar numa nova barca de Noé e sobreviver às tempestades que se avizinham.
A destruição do espírito americano, de Allan Bloom, publicado em 1987, é um retrato do que realmente já aconteceu nos Estados Unidos. Quase meio século depois, se reproduz no resto do planeta, e muito singularmente no Brasil, país que viaja para o passado, sem nunca ter conhecido futuro algum. As tempestades de hoje, que engolem e dissolvem todas as instituições brasileiras – sejam federais, estaduais ou municipais – com destaque no legislativo, judiciário e executivo – apenas demonstram que, decididamente, a ciência e a tecnologia pouco estão servindo para a emancipação mental ou emocional do ser humano. Ao contrário, talvez tenham proporcionado o colapso da vida inteligente que tanto nos distinguiu nos últimos 100 mil anos. E não será a Inteligência Artificial que nos absolverá dos pecados que cometemos. Trata-se, a IA, de mera evolução do tecnicismo, do automatismo e do evolucionismo às avessas, rebaixando os grandes valores do humano: a sensibilidade, a ética e a compaixão.(apolinarioternes.com.br/aternes@terra.com.br/ 22/05/2023).