Feudalismo no século 21
É preciso advertir os catarinenses que o Estado está submetido a uma bolha informacional. Não é verdade que Santa Catarina seja um dos mais desenvolvidos e ricos estados da federação. Não é verdade que a indústria catarinense não padeça dos processos de desindustrialização do resto do país. A economia brasileira depende em mais de 50% do agronegócio, todo o resto naufraga num estágio de profunda mediocridade. Com raras exceções. Certamente elas existem também em Santa Catarina, com nomes de prestígio e que atuam no mercado global. Casos bem localizados no cenário catarinense.
No geral, contudo, os sete milhões de catarinenses são reféns de ‘realidade aumentada’, ficcional, inventada todos os dias com as mais impressionantes demonstrações de desprezo real com a verdade. Para alguns, somos um ‘ encantado Estado de Maravilha’. Tudo é lindo, moderno, avançado e deslumbrante. O jornalismo jaz morto e sepultado. Há tão somente a ‘narrativa’ do feudalismo vigente, onde a verdade veste uniforme oficial e se nutre de verbas públicas. É impressionante como governos e órgãos oficiais gastam milhões de reais anunciando o improvável e mentindo de forma acintosa à opinião pública. Tudo com o dinheiro do contribuinte, da forma mais indecente, porque avalizada pelas instituições, todas irmanadas na convicção de que Santa Catarina está acima de tudo e Estado acima de todos. Um populismo institucional que brada aos céus, mas que está aí, entupindo todos os canais o tempo todo. Tudo pago com o dinheiro de pouco controle ou de muitos donos.
A imprensa acabou em Santa Catarina, registre-se. O que temos é uma máquina de extrair dinheiro dos cofres públicos de forma calamitosa. Não se trata apenas do governo do estado, mas de todos os entes públicos: governos municipais, Câmaras de Vereadores, Federações disso e daquilo, Tribunais de qualquer espécie, companhias estatais, cooperativas de todas as categorias. Onde há dinheiro coletivo, isto é, de cooperados e filiados, a gastança é absoluta. É só ligar a televisão ou acessar a Internet. Nasce desse dinheiro a imagem idílica e falsa de um Estado que ‘dá exemplo’ e é invejado no resto da nação.
A bolha informacional catarinense, que nos rebaixa ao que existia na época do Feudalismo, bem antes da invenção dos tipos móveis de Gutenberger, por volta de 1450, já nos cobra sérios desgastes. Por exemplo, somos o Estado mais alinhado à direita da direita. Aqui Bolsonaro teve quase 70% dos votos. Proliferam demonstrações de admiração por valores do nazismo, inclusive se multiplicam organizações do gênero, abrigando centenas de jovens adeptos do ‘Deus, pátria e liberdade’, como, regularmente, noticia a imprensa do resto do país.
O Feudalismo barriga-verde no século 21 cobrará preço exorbitante. O preço da acomodação, da humilhação, da submissão, da incapacidade de reagir. De certa forma tudo isso já está aí, na construção da inverdade, da ‘realidade aumentada’ e no desvio de milhões de reais do contribuinte na construção da fantasia iluminada de que somos ‘ melhores e maiores’.
Vale observar que o novo e surreal ‘mapa da comunicação e da informação’ não é privilégio de Santa Catarina. Muitos estados brasileiros, sempre ‘ os mais desenvolvidos e ricos’, padecem, igualmente, dessa pandemia de gastos do dinheiro público, no cumprimento da ‘obrigatoriedade de anunciar’. A mediocridade dos meios é tanto maior quanto a empáfia em proclamar o que não existe, extinguir os males existentes e declamar a competência de iludidos e pagantes. Sim, o custo é que estamos edificando um Estado servil e submisso, cego e surdo. O Feudalismo existiu porque subordinou todos a alguns e alguns poucos se consideravam superiores e melhores. Durou mil anos, é bom não esquecer.(aternes@terra.com.br)