O deus-nos-acuda
Em meio às consequências das mudanças climáticas que parecem engolfar o país num estágio de apocalipse, os que mandam vão passando a boiada, no melhor estilo do fundamentalismo Bolsonarista. Um Deus nos- acuda, e salve-se quem puder. Há um surto gigantesco de anarquia nas contas públicas e as melhores instituições corporativistas avançam despudoramente sobre o Tesouro.
Primeiro criou-se a meta de zerar o déficit fiscal em 2024, depois veio o Lula de sempre e derrubou tudo, no melhor estilo terrorista. Enquanto isso o Ministério da Justiça recebia com rapapés a ‘dama do tráfico´ do Amazonas e outro Ministério, dos Direitos Humanos, se encarregava de pagar as despesas de transporte aéreo da mesma pessoa, condenada a dez anos por tráfico de drogas, que recorre em liberdade sabe-se lá há quanto tempo.
Roubam-se armas dos arsenais militares. Desviam armamentos de outros quartéis. Policiais são flagrados comercializando drogas apreendidas. Juízes desejam multiplicar seus holerites e pretendem reativar benefícios extintos, com recebimento de valores retroativos que poderão suplementar salários em até R$ 241 mil. Aliás, a ´confusão´ nos valores da nata dos servidores públicos no Brasil é ainda maior do que a que envolve a guerra em Gaza.
Um notável desperdício. Quase todo os 3 trilhões de arrecadação nas esferas do poder são demoníaca e sanguinariamente desviados para o enriquecimento das elites. Nas forças armadas, no judiciário, no legislativo, no executivo e em milhares de cargos e benesses destinados aos afilhados de sempre. Temos cinco séculos dessa porcaria de elite envenenando a nação, mas nunca quanto agora em que as ‘instituições’ funcionam apenas para preservar e aumentar privilégios e desmandos.
Um deus-nos-acuda, só comparável ao que acontece às cidades brasileiras igualmente jogadas às traças diante das tragédias do clima. São voos panorâmicos nos céus e falas irresponsáveis e mentirosas em terra. É mentira que os governos – federal, estadual e municipal – estejam preocupados com as desgraças do povo. São falas para ‘inglês ver’, verbas que não existem e que jamais serão liberadas. Programas que são esquecidos já na semana que vem. É tudo mentira, mas a anestesia do povo realmente impressiona. Não há reação alguma. Ninguém é capaz de enfrentar as ‘autoridades’ e já não temos jornalismo e nem tampouco liberdade de expressão. Enquanto o desvario ameaça rebaixar o Brasil e uma colônia do século 17, agora estamos vendo um surto de propaganda oficial e de gastos do dinheiro público em quase todos os estados brasileiros. Não é só em Santa Catarina que se gastam somas milionárias na difusão escandalosa de que as instituições funcionam, numa afronta coletiva ao povo. Tribunais de Contas, Tribunais de Justiça, Assembleias Legislativas, Prefeituras, Câmaras de Vereadores, empresas estatais, enfim, onde há dinheiro público existem vultosas quantias sendo canalizadas para ‘dar transparência e informar o povo’. Um delírio em que o povo paga tudo e só alguns lucram. Qualquer prefeitura de qualquer canto do país, gasta milhares de reais todos os anos com shows musicais. É festa disso, festa daquilo. Festival do pirão, quermesse do pinhão. Oktoberfest, Zilsefest, Chintzefest, Marrequem fest ou festa da ovelha, da ostra, do maracujá, colheita da uva, da cebola, do aipim. Tudo é motivo de festa e de shows musicais para o povo. De sobremesa, o poder público anuncia aos quatro ventos que o paraíso existe, é aqui em Santa Catarina, não adie sua visita.
Em Santa Catarina mais de 60% das estradas estão em colapso. Os congestionamentos nas rodovias, sejam federais ou estaduais, desfazem em pó milhares e milhares de reais dos setores produtivos. Tudo é precário, improvisado e tudo é prometido e nada é realmente feito e concluído. Nunca os níveis de eficiência da máquina pública estiveram tão baixos, à beira quase sempre do colapso. Na saúde, no ensino, na segurança pública. Enquanto isso, nunca as prefeituras estiveram tão cheias de servidores, num banquete permanente à burocracia e ao faz-de-conta.
Nossas cidades não estão preparadas para as calamidades climáticas, como se pode verificar à exaustão neste ano de 2023. A qualificação do poder público em quase todos os setores é de fazer qualquer ímpio chorar e, ao primeiro sinal de chuva ou de escassez dela, decreta-se ‘emergência’ e se gasta sem licitação, isto é, se compra do primeiro fornecedor na calçada da prefeitura. E vamos ter eleições ano que vem, com fundo de R$ 5 bilhões a serem gastos sem tipo algum de prestação de contas.
Estamos assim: um grande incêndio florestal no cerrado e na floresta, inundações nas cidades e ‘complementações’ nos holerites dos marajás dos poderes. De fato, o Brasil não é para amadores, diria o mestre Acácio. Uma colossal vergonha. Mas a Argentina é logo ali e a Venezuela do outro lado. O Brasil é uma questão de tempo. E da incompetência de todos nós. (aternes@terra.com.br)