A Grande Democracia
O Brasil está vendo que o presidente Lula é, de fato, um turista que faz escalas em Brasília. Entre um passeio e outro, sempre acompanhado de sua ilustre cuidadora, hospeda-se nos melhores hotéis do planeta, com diárias que alcançam milhares de reais por noite. Agora, inusitadamente, deseja que o avião presidencial seja adaptado a garantir o melhor conforto possível, o que pode representar um gasto adicional de 400 milhões de reais.
O novo governo se esforça para gastar o máximo possível, na doce ilusão de que a máquina burocrática possa fortalecer o PIB. Teremos, de novo, daqui a pouco, índices de inflação altas, como observam alguns economistas. A era de Roberto Campos no Banco Central está terminando e a rigidez fiscal foi demolida pela ‘nova regra’ criada por Arthur Lira e endossada pelo centrão, hoje dono efetivo do orçamento da República. Refém desse artificialismo todo, só resta a Lula aproveitar as mordomias da presidência. O que vem fazendo com furor e despudor.
Antigamente, novo presidente significava novos tempos. Mudança de política, de estratégia e definição de objetivos. Na nova democracia muda-se o governo – da extrema direita para a esquerda fascista – e nada muda no país. Em todas as ‘democracias’, eleição significa substituição de um regime despótico, por outro, ainda menos confiável. Governar era liderar a nação, estimular objetivos, fortalecer a economia e proteger os despossuídos. O que temos hoje? Um turista acidental que entre viagens quase ininterruptas, muda e amplia o número de ministérios para acomodar correligionários e ‘oposição’. A democracia se esfarela em quase todos os chamados ‘regimes abertos’, agora dominados por diferentes ‘organizações’.
Vivemos sob o império da ‘modernidade líquida’, que nada mais é do que a dissolução dos valores cívicos, da destituição dos demais poderes, agora rebaixados a poderes subalternos, invariavelmente ocupados por eminentes e abjetas figuras de submissão e interesses repulsivos, porque escancaradamente acima e abaixo das leis. É o que vemos, despudoramente, no Brasil de nossos dias, quando as instituições da República trafegam por descaminhos obscuros e mesquinhos.
A Grande Democracia, que não se instalou apenas no Brasil, mas na maioria de outros povos reconhecidos como democracias sólidas, dos quais vale citar Estados Unidos, Reino Unido, França, Itália, para não mencionar os miseráveis países latino-americanos e africanos, todos, agora, rebaixados a reinos de barbárie e autoritarismo. Argentina e Venezuela já mergulhadas no sistema do Ministério da Verdade.
De fato, vivemos a era das rupturas e de reinvenção da política, nos encaminhando, o Ocidente que se vangloriava de princípios democráticos, para tempos de autoritarismo, populismo, incompetência e falência completa do Estado, de suas instituições e de suas funções. Nada mais falido do que, por exemplo, o sistema governamental brasileiro. A criminalidade aumenta, a educação, o ensino e a cultura, despedaçam-se; a indústria encolhe e não produz nada tecnologicamente avançado; todo o sistema entrou em colapso, ainda que a mídia insista em dizer que o país continua viável. Viável para o agronegócio e para a extração de minérios, com o preço da condenação do meio ambiente, até na Amazônia. O Brasil é um gigante devorado pela corrupção, pelo populismo, pela ineficiência. O que existe é uma burocracia dominada por famílias feudais, que ocupam as antigas capitanias. E não restam mais ilhas de seriedade e compostura. Não há limite para o naufrágio das instituições, em todos os níveis, isto é, da Diocese central de Brasília, aos feudos locais controlados por títeres ainda menores.
No futuro, isto é, em menos de uma só geração, as democracias do século 21 se transformarão em Estados totalitários, com sistemas fechados de poder e distribuição das receitas públicas. Estamos a um passo do impasse final. O governo Lula, por exemplo, nada mais é do que a antevéspera da nova ditadura, já bem encaminhada nos países tão intensamente visitados por Lula, daí sua insistência na defesa de regimes falidos e autoritários ao redor do planeta. Nada é de graça, e tudo está aí, escancarado à nossa frente. (aternes@terra.com.br/ )12-09-123