Mundão de memórias
Apolinário Ternes
O médico Ronald Fiuza, mineiro de Pitangui, chegou a Joinville no início da década de 1970. Da mesma época, veio também outro médico de Minas – Djalma Starling. Vinham para uma jornada cheias de desafios e para expandir a neurologia na cidade e no Estado. Em meio século desbravaram a ciência e o mercado, estabelecendo a primeira clínica neurológica que, em 2023, completa exatos 50 anos de ininterrupta atividade, com milhares de atendimentos, milhares de cirurgias e equipe de especialistas com dezenas de profissionais.
Neste meio século, Ronald Fiuza realizou várias jornadas interessantes, e não apenas como médico. Uma delas, foi a de globe-trotter, turista do mundo. No exercício da medicina, sempre ocupou cargos de destaque, dentre os quais o de presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia e de Secretário de Saúde do Estado de Santa Catarina.
Fez especialização na Alemanha e participou de congressos e reuniões na área médica em dezenas de países, assim foi preenchendo passaportes um atrás do outro. Visitou, em 50 anos, 70 países. E colocou cada uma dessas viagens no livro ‘Memórias deste mundão – como a Medicina me levou a 70 países, que acaba de lançar em evento interno da Academia Joinvilense de Letras, à qual pertence como acadêmico dos mais ativos e participantes. O livro já pode ser encontrado na forma digital na Amazon. Tem 366 páginas, algumas fotos e uma boa organização de todo o conteúdo. A apresentação é da acadêmica Maria Cristina Dias, presidente da nossa Academia Joinvilense de Letras.
O Dr. Fiuza, também especialista em mineirice, uma espécie de ‘estado emocional’ que nos remete a dois outros excepcionais talentos das Gerais, Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa, nos oferta com um texto delicioso, fazendo-nos viajar por este ‘mundão’ de países nos cinco continentes. O Fiuza visitou os países mais representativos de todo o globo, mostrando com humor, cultura, sensibilidade e muita informação um painel atualizado das maiores e mais importantes aglomerações urbanas do planeta. O livro apresenta um desfile das mais singulares cidades de cada continente, comprovando que o médico Joinvilense esteve na Capela Sistina, no Vaticano, à Muralha da China, ao redor de Cidade Proibida de Beiijing. De Nova Iorque aos monumentos de Machu Pichu, das geleiras da Patagônia aos fiordes da Noruega. Das pirâmides do Egito, às pirâmides do México. Esteve em mercados públicos de mais de 100 cidades, em catedrais, museus, palácios, estádios, hotéis sofisticados, livrarias famosas, universidades centenárias e famosas, em concertos de música clássica a restaurantes mundo afora. Apreciador de comidas exóticas, experimentou de tudo em matéria de culinária. Foi a quase todos os lugares mais preciosos, como o local de nascimento de Cristo, em Belém, ao excepcional Museu da Tecnologia, em Munique, do muro de Berlim (antes de 1989) à capital da União Soviética, ainda comunista. Do Taj Mahal ao Mar Morto, do mar azul do Caribe até ao ares e areais do Saara, onde passeou montado em camelo.
Enfim, um livro que não lemos apenas (e merece releitura), mas saboreamos, deglutimos, ouvimos, comemos e somos informados de curiosidades e caminhamos o tempo todo. Fiuza, quase sempre acompanhada de sua mulher Anelise, nos mostra com rara objetividade e com finíssimos aportes – destacando os gênios e os destaques culturais de cada país – sempre descrevendo caminhadas longas ou curtas pelos lugares mais interessantes do planeta. De fato, de livro de viagens e relatos de caminhantes e peregrinos, o mundo está cheio e já lemos (quem aprecia como este leitor) muitos livros do gênero. O de Fiuza, contudo, tem seus ingredientes peculiares, o que torna o livro uma relíquia de cultura, tudo sempre com os acréscimos de detalhes de quais motivos resultaram na escolha de roteiros e continentes. Congressos de medicina, aquisição de equipamentos de ponta para hospitais e governos, visitas a parentes ou mesmo dos filhos estudando fora, motivos não faltaram para um Fiuza muito curioso sobre as coisas e pessoas deste mundão.
Agradável e cheio de informações, o livro de Fiuza é um convite irresistível para colocarmos o pé na estrada e visitarmos o que pudermos antes que acabe. Não os países e a civilização, o nosso tempo. Fiuza diria, repetindo Fernando Pessoa, ‘tudo vale a pena se a alma não é pequena’.